De repente,
Tudo acabou.
O seu amor,
O dia,
Minha última esperança,
A verdade,
Minha vida.
De repente,
Tudo acabou.
Acabou-se meu presente,
Minha realidade,
Minha sanidade
E um coração humano que aqui batia...
De repente,
Sem mais pensar,
De dentro de meu corpo,
Nascido de minha alma vazia,
Surge um bicho
Noturno, melancólico, mórbido,
Dos olhos do qual
Brotava desejo maciço
De alçar vôo em liberdade...
De repente,
Meus olhos cegaram
E não pude mais pará-lo!
O animal, a besta,
Sem mais nem menos,
Convidou-me a outra vida,
Vivida numa morte viva...
Viva? Apenas meu corpo horrendo!
Morreria total e voluntariamente
Minha alma triste...
O bicho olhou-me simplesmente
Assim, sem mais nem menos,
E disse-me de repente:
"- Cante!"
Cantei!
Cantei minha dor!
Cantei a dor que sentia
E que só a besta via.
De repente,
De minha alma triste,
Brotava maciço desejo
De esquecer minha saudade,
Esquecer o presente,
Minha esperança,
Ou realidade...
Enfim,
Esquecer a perdida sanidade,
Você, anjo e toda a minha vida...
Então pude deixar o Deus, a luz,
E engolir esse maldito dia e os outros por vir
Com a noite que nascia - sublime –
Dentro de mim...
E com o clamor ecoando dentro de minha alma, disse:
" – Amo-te, besta!"
Minha dor é permanentemente bela!
Nem a luz pode contaminá-la!
Eis que de repente
Da minha vasta escuridão brota
A aura lunar de minha poesia,
Para toda a eternidade
Guiar e abençoar
Uma triste alma
Que nesta hipócrita realidade
Nunca mais há de chorar...
Autor desconhecido