"Apostei tudo com a certeza de quem está errado,
apostei tudo mesmo sabendo que perderia,
apostei tudo como se fosse este o destino,
apostei tudo,
como se não tivesse nada,
apostei tudo e perdi.
Perdi e perdi-me,
por minha própria vontade,
no escuro é o meu lugar,
porque sonhei com a claridade?
antes assim,perdido,
mas ciente disso,
que encontrado para perder.
É assim a vida,
assim o destino marcou,
pensei ser forte por momentos,
afinal fraco eu sou.
Peço perdão aos deuses,
por os ter desafiado,
levem-me convosco para longe,
a vida sem sonho,
não tem significado.
Está acabado,
mesmo antes de começar,
como uma noite que chega,
antes do despertar.
É triste mas é merecido,
castigo,
perdido,
ferido,
de morte,
tenho poucos dias de vida,
essa é a minha sorte.
Tudo passa,
e eu também,
espero o tempo na desgraça,
de quem apostou e nada tem.
Fui, já não sou,
fui rei, vagabundo sou,
fui eu, nada sou,
mas um nada que é finalmente nada,
não há divergências agora,
há vaticinios,
está traçado o caminho,
e na sepultura já sabem quem lá mora.
Quem me mandou ter ambição?
quem me mandou tocar o céu?
Se todos sabem que lá no alto,
a solução é descer.
Caí, doeu,
mas desta vez não me levanto,
estou farto de lutar,
farei desta terra o meu manto.
Nem alegria nem espanto,
nem subir para descer,
nem morte nem vida,
sou só dor e pranto.
Deixa-me,
se não venço o destino,
deixa-me pelo menos perder,
com honra ou sem ela,
não me vou erguer,
para uma vez mais,
perder-me naquela ruela,
onde num dia distante,
pensei ao longe ver a luz,
era ilusão minha a visão,
pois só era reflexo da minha cruz.
A luz não existe,
só a sonhamos por momentos,
a vida é trevas e escuro,
dor e tormentos.
A luz é um sonho vazio,
que só os loucos vêem,
nada mais nada menos,
que uma rasteira,
que nos atira para o chão,
tosco e frio.
Como este relato,
sem emoção,
que é como o sonho,
loucura acreditar em mudar,
o destino está traçado,
eu nada tiro ou ponho.
Sou vegetal,
espero no mesmo local,
que o Sol venha e passe,
com a tranquilidade de quem sabe,
que no dia a seguir,
está vivo ou está morto.
Fisicamente,
porque espiritualmente morri hoje,
não ressuscito porque não quero,
não corro porque ele foge,
não grito nem desespéro,
estou morto e depois?
qual o problema,
não há,
se morto está,
mal não fará.
Saibam pois que vos fala um morto,
não tenho alma,
tenho corpo,
como outro qualquer,
ando,um passo a seguir ao outro,
sem destino a não ser ele mesmo,
não falo para não ficar rouco,
não ouço para não ficar mouco,
não vivo nem sonho para não ficar outra vez...louco.
Não tenhas pena,
nada sofro,
não sei o que é a dor,
porque ela não existe sem alegriae essa eu não tenho,
levaram-me um dia em agonia,
para o cemitério de onde venho.
E só agora sem cor,
dou valor ao cinzento,
é certo, é sossego,
um luar solarento.
Por mim não existiriam cores,
não servem para nada está visto,
mais do que a beleza das flores,
está presente a dor de Cristo.
Ou o que quer que seja,
não sei nem me interessa,
vivo porque me obriga o destino,
morro porque não tenho pressa.
É só que sou eu,
é só morto que posso viver,
porque a vida são momentos,
que morto não vou viver.
Morto, vivo o morto,
a linha do horizonte sempre igual,
mesmo que não exista na realidade,
não precisa de alma para ser imortal.
Nem preciso eu,
sou pó,cinzento,
é isso que é verdadeiramente meu.
E quando na escuridão,
abrem uma janela,
o pó entra em turbilhão,
e encontra nas trevas,o descanso eterno."
Autor desconhecido.